Equipe Christo Nihil Praeponere
Uma longa experiência, vinda do contato íntimo com as almas dos jovens, havia convencido Dom Bosco de que, frequentemente, as férias são “a colheita do diabo”. Este sonho, acontecido em Lanzo Torinese, em setembro de 1878, foi para o santo educador uma dolorosa confirmação.
“Sonhei — ele conta — que me encontrava em um lugar desconhecido, no qual se estendia um jardim com uma enorme pastagem ao lado. Em companhia de alguns amigos, entrei no jardim e avistei uma quantidade de cordeirinhos que saltavam, corriam e davam cambalhotas. Eis então que se abriu a porta do jardim e a maior parte dos cordeiros se precipitou no pasto. Muitos, porém, permaneceram no jardim e continuaram a pastar a grama, ainda que ela não fosse abundante como na pastagem. Subitamente, porém, o céu se tornou escuro, cheio de relâmpagos assustadores e trovões que reboavam com força.
— O que será dos cordeiros espalhados pelos prados? — pensei comigo — Façamos com que eles voltem ao jardim, a fim de ficarem protegidos da tempestade.
Comecei a chamá-los; depois com meus companheiros tentei trazê-los para a entrada do jardim. Mas eles não queriam saber de entrar: um fugia de um lado, outro escapava de outro. Ah, sim, os cordeirinhos tinham as pernas mais rápidas do que as nossas. Começaram a cair, no entanto, algumas gotas bem fortes d’água, e a chuva foi se fazendo cada vez mais intensa.
Vendo que eram inúteis os esforços para fazer voltar o rebanho, entramos no jardim. Aí havia uma fonte com uma cobertura de mármore, sobre a qual estava escrito em letras garrafais: Fons Signatus, isto é, “Fonte Selada”. De repente, a fonte se abriu e a água começou a brotar, dividindo-se sob a forma de um arco-íris e formando uma espécie de portal. Os relâmpagos e os trovões se faziam mais frequentes e começou a cair, então, uma chuva de granizo. Nós todos nos refugiamos debaixo daquela maravilhosa abóbada e ficamos protegidos.
— Aqueles pobres cordeirinhos que ficaram de fora, como farão? — eu me perguntava, enquanto isso.
Não podendo resistir, saí para fora ignorando a chuva, e deparei-me com um espetáculo desolador. A chuva e o granizo haviam reduzido os cordeiros a um estado tão miserável a ponto de inspirar compaixão: atingidos violentamente e de várias formas pelas pedras de gelo, eles estavam caídos por terra e, por mais que se esforçassem, não tinham mais força para se levantarem e caminharem até o jardim. A tempestade, neste espaço de tempo, já havia cessado.
— Observa a fronte daqueles cordeiros — disse-me o Guia.
Sobre a fronte de cada um era possível ler o nome de um jovem do Oratório. Foi-me apresentado, então, um vaso de ouro com uma tampa prateada. O Guia me disse:
— Espalha um pouco deste unguento sobre as feridas dos cordeiros para veres o efeito prodigioso dele.
Bem depressa me pus a trabalhar, mas, tão logo me aproximei de um, ele fugiu de mim. Corri em direção a outro, mas também este me escapou. E assim aconteceu com todos aqueles de que eu me aproximava para ungi-los e curá-los. Finalmente me aproximei de um cordeirinho mais ferido do que os outros, que tinha os olhos quase fora das órbitas. Toquei-o com a mão espalhada do misterioso unguento e, no mesmo instante, ele ficou curado e voltou a saltar pelo jardim.
À vista daquilo, então, muitos outros cordeiros se deixaram tocar e curar e entraram no jardim. Restavam muitos do lado de fora, no entanto, e geralmente eram os mais machucados; destes não me foi possível aproximar-me.
— Deixa-os estar — disse-me o Guia —, verás que até aqueles virão.
— Veremos! — eu disse.
Tomei o vaso dourado e retornei ao jardim. Este havia mudado de aspecto, tendo escrita em sua entrada a palavra “Oratório”. Quando acabei de entrar, vi aqueles cordeiros que não queriam vir se aproximarem, entrarem escondidos e tomarem um canto aqui e outro ali. Finalmente podia aproximar-me deles e curá-los com o unguento milagroso. Alguns, porém, que o receberam contra a própria vontade, obtiveram o efeito de verem suas feridas piorarem: para estes o remédio se convertia em veneno.
— Olha: vês aquela bandeira? — disse-me o Guia.
Voltei-me e vi um grande estandarte, sobre o qual estava escrito em letras garrafais: “Férias”.
— Este é o efeito das férias — explicou-me o Guia —. Os teus jovens deixam o Oratório com boa vontade de se nutrirem da Palavra de Deus e de se conservarem no bem, mas então lhes sobrevem o temporal, que são as tentações; depois a chuva, que são os assaltos do demônio; cai o granizo, enfim, e é aí que eles caem no pecado. Alguns ainda se curam com a Confissão; mas outros não fazem bom uso deste sacramento ou sequer chegam a usá-lo. Tem isso em mente e não te canses de repetir aos teus jovens que as férias são uma grande tempestade para suas almas.
Estava ainda cuidando das feridas mortais daqueles cordeiros, quando um barulho no cômodo ao lado me despertou.”
Trata-se de um sonho revelador das solicitudes assíduas, próprias mesmo de um pai, com as quais Dom Bosco cuidava das almas de seus jovens assim que eles retornavam das férias. Hoje os meios de corrupção cresceram e, se os jovens abandonarem o encontro com Jesus alimento na Comunhão e com Jesus médico na Confissão, bem dificilmente escaparão ilesos dos perigos do ócio e das más companhias, próprios do período das férias.