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Escolas de forte identidade católica são fundadas por famílias e grupos leigos

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AciDigital

Anne e Thiago Moutinho têm quatro filhos entre um e oito anos ano, dois deles já estão na escola. Assim que o primeiro filho foi para a creche, optaram por uma instituição perto de casa, que “era mais fácil para a família”. Depois de um tempo, veio a pandemia, as escolas fecharam e Anne começou a pesquisar mais sobre a educação das crianças, até que conheceu os novos colégios de identidade católica. Quando as aulas retornaram, não teve dúvidas e quis matricular seu filho em uma dessas instituições. Hoje, os dois filhos mais velhos estudam em uma dessas escolas fundadas por pais no Rio de Janeiro (RJ). “Eu buscava para os meus filhos um lugar seguro, porque, de verdade, hoje as escolas católicas no geral deixam muito a desejar, a maioria no quesito fé”, disse Anne à ACI Digital.

“A fé é o principal legado que podemos deixar para os nossos filhos e esse legado entendo que é uma responsabilidade nossa, dos pais, de transmitir aos filhos. E fazemos isso em casa com os nossos hábitos, com a catequese, as orações, a rotina, ir à missa juntos. Eu busco alguém que me ajude de verdade a criar na criança esse senso de participação, de ser parte da Igreja, por mais que não seja uma escola de freiras, padres. É totalmente diferente. É uma escola criada por pais para seus filhos”, disse. Ela acrescentou que essas novas instituições estão sendo fundadas “por associações de pais, leigos que têm objetivos em comum, querem educar seus filhos na fé, com uma boa educação e que sejam formados nas virtudes”.

Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), João Malheiro era até o final deste ano o diretor de um desses colégios, o Porto Real, no Rio de Janeiro. Ele define essas instituições como “escolas de famílias para famílias”. “Está nascendo uma nova época na história da educação, que começou no século XXI, agora as escolas não estão mais com as instituições da Igreja Católica, mas estão com as famílias. São escolas de famílias, seus fundadores são famílias que se juntam, alinhados nos mesmos valores, nos mesmos princípios, objetivos, virtudes”, disse.

Atualmente, Malheiro viaja o Brasil todo dando palestras e formações sobre questões ligadas à educação, virtudes e também a fundação de novas escolas. Em 11 de janeiro, ele anunciou em suas redes sociais sua filiação ao partido Novo e que vai concorrer a vereador do Rio de Janeiro nas eleições deste ano.

Em entrevista à ACI Digital, Malheiro disse que “até uns 30 anos atrás, as escolas mais tradicionais, mais capacitadas eram as escolas de fato chamadas católicas”, mantidas e administradas por “irmãos, freis, monges, religiosas de diferentes congregações” e “tinham muito a ver com o fundador”. Nessas escolas, “havia um cuidado, uma vigilância, uma cautela para que de fato fosse uma escola católica”. Porém, “com o esfriamento na Igreja – e aqui não vamos fazer uma análise histórica e doutrinal da questão –, o fato é que muitas dessas instituições foram esfriando, perdendo sua própria identidade, começaram a não ter vocações e, portanto, passaram a não ter mais pessoas para trabalhar nessas escolas”. A solução “foi contratar pessoas que não eram da instituição, não tinham a mesma formação, a mesma ortodoxia, a mesma preocupação de manter os ideais dos fundadores” e, “naturalmente, essas escolas foram deixando entrar ideologias”.

Frente a esta realidade, “famílias que se consideram católicas e vivem sua fé com muita coerência, doutrina e vivência, percebendo que não existia mais uma escola católica que pudesse ser escolhida para seus filhos, arregaçaram as mangas e começaram a fundar as escolas de identidade católica”, disse.

Malheiro ressaltou que não gosta de considerar “como escola católica” a escola que não pertence uma instituição da Igreja Católica, como a uma ordem religiosa. Para ele, “a escola tem que ter uma configuração ligada à metodologia personalizada, ou construtivista, ou tradicional, enfim, de várias metodologias de educação, e dentro dessa metodologia tem uma identidade católica”. “Penso que esse termo escolas católicas não deve ser usado como uma etiqueta, mas como um aspecto do seu plano político-pedagógico”, acrescentou.

“Vamos supor que essa escola dita católica não é boa, você vai acabar denegrindo a Igreja Católica” e “abusando da Igreja Católica para atrair e enganar famílias católicas. Isso é incorreto”, declarou.

Por isso, muitas dessas instituições possuem nomes não necessariamente católicos, como Porto Real, Monte Alto, Mirante. “Se são escolas de famílias para famílias, então, é muito mais interessante que coloquemos símbolos, imagens ligados à aventura, ao desbravamento, à coragem, às virtudes que vamos defender e que transmitem muito mais o que realmente são”, disse Malheiro.

Segundo ele, “no fundo, esses novos colégios de identidade católica estão resgatando o conceito de escola”. “A escola sempre foi o local que era uma continuidade da família, uma extensão do próprio lar. Os pais escolhiam a escola para continuarem a educação que os filhos recebiam em casa. Os protagonistas sempre foram os pais, que são os primeiros e principais responsáveis pela educação dos filhos”, disse.

O educador ressaltou que muitos desses novos colégios têm também por trás um movimento, uma nova comunidade católica que os inspira. No caso do Porto Real, disse que “a alma da escola é a formação da Opus Dei” e muitas famílias são “ligadas a essa espiritualidade”.

Há também escolas que seguem esse mesmo formato e são fundadas pelas próprias novas comunidades e movimentos. É o caso do Colégio Querubins, da Comunidade Theófora. Em fevereiro de 2023, abriram uma unidade em Araguaína (TO) e, em 2024, haverá mais duas unidades em Imperatriz (MA) e Balsas (MA).

A vice-diretora do Querubins, Maria Vitória Andreatta, contou à ACI Digital que a fundação de uma escola católica foi “um chamado” que a fundadora da Comunidade Theófora, Rosangela Andreatta, sentiu durante um momento de oração “há alguns anos” e que foi “confirmado e amadurecido” pela comunidade. “No Colégio Querubins, não tivemos envolvimento das famílias no início como um movimento específico. Foi de fato nossa resposta à missão que o Senhor já havia nos pedido. Mas, sim, tiveram algumas famílias que já buscavam essa educação no seu lar e vieram estar conosco, junto com seus filhos, aderiram à iniciativa da comunidade”, disse a vice-diretora.

“As famílias têm voltado à sua essência, entendendo o papel de educar. Não é o colégio que educa, e sim uma união entre a família e a escola”, acrescentou.

Anne Moutinho destacou essa união como uma das características da escola de seus filhos que a atrai. “Temos a preceptoria trimestralmente para cada criança. É um tempo que temos com o professor para conversar só sobre nossos filhos, os desafios, os avanços. A gente contribui, fala o que pensa, o que gostaria que fosse feito, e a escola responde e pede o que é para ser feito em casa”, contou.

“Mas, tem muito a questão do ensino também. O ensino é muito bom. A escola congrega um ensino de qualidade com a formação humana e também na fé. Para mim, é o combo perfeito”, disse Anne.

Para Maria Vitória Andreatta, abrir essas novas escolas não deve ser visto “como ganho financeiro ou status empresarial”, mas como “uma missão à qual somos chamados e viver e a nos doar”.

“Temos aí não digo uma tendência, porque uma tendência pode passar, mas percebo como a resposta que o Senhor quer de nós nesse tempo. A cada tempo o Senhor pede, levanta movimentos dentro da Igreja na história da humanidade para que ali possa ter um pequeno oásis. Nós nos encontramos assim, pequenos oásis dentro dessa sociedade e muitas pessoas têm despertado, famílias, novas comunidades, movimentos, com interesse, de fato, de educar”, disse.

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