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Vice-presidente põe princípio moral da Igreja no centro do debate nos EUA

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O vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, está tentando acrescentar catequista-em-chefe às suas funções oficiais?

O uso de um conceito teológico menos conhecido pelo vice-presidente para defender a posição da Casa Branca de Trump sobre imigração gerou um debate teológico, e sugeriu que o status de segundo homem no comando de Vance, um convertido ao catolicismo, pode injetar o pensamento católico no debate sobre política de modo inédito.

Vance, que se tornou católico em 2019 e demonstrou familiaridade atípica com aspectos da tradição intelectual católica para um político, citou a ordo amoris, a ordem ou regra do amor, para defender a ideia de que governo americano é obrigado a cuidar dos cidadãos americanos antes de cuidar dos de outros países.

O princípio, que foi desenvolvido por teólogos da estatura de santo Agostinho e santo Tomás de Aquino, diz que o amor de uma pessoa deve ser corretamente ordenado segundo uma hierarquia de obrigações, partindo de Deus e fluindo para as pessoas de acordo com graus de proximidade. Primeiro a família, depois a comunidade, depois o país.

“Basta pesquisar no Google ‘ordo amoris‘, disse Vance na rede social X em 30 de janeiro em resposta a Rory Stewart, ex-membro do parlamento britânico que criticou a posição de Vance de que as pessoas deveriam amar os que estão mais próximos delas primeiro como “menos cristã e mais pagã tribal”.

“Além disso, a ideia de que não há uma hierarquia de obrigações viola o senso comum básico, pois os pais têm maiores responsabilidades com seus próprios filhos do que com estranhos em países estrangeiros”, disse também Vance.

A publicação de Vance sobre a ordo amoris foi vista cerca de 11 milhões de vezes. E com o homem de 40 anos desempenhando um papel tão visível no governo Trump só algumas semanas no cargo, isso sugere que conversas catequéticas instigadas pelo vice-presidente podem ser a norma nos próximos quatro anos — pelo menos.

‘Destaque’ sobre a doutrina da Igreja

O fato de o vice-presidente também estar discutindo publicamente com a Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB, na sigla em inglês), que ele acusa de ter participado de programas federais de reassentamento de refugiados por preocupação com “seus resultados financeiros”, provavelmente ampliou a atenção sobre os princípios católicos relacionados à questão.

Vance, que se tornou católico sob a orientação dos dominicanos da Costa Leste dos EUA, já havia falado sobre impacto da teologia política de santo Agostinho sobre ele. Autointitulado católico “pós-liberal”, ele também é próximo de líderes do crescente movimento político católico, como Patrick Deneen, da Universidade Notre Dame, e Chad Pecknold, da Universidade Católica da América.

O fato de que a discussão mais recente sobre a aplicação da ordo amoris à vida pública americana tenha sido gerada por um político de tão alto escalão não passou despercebido a Eduard Habsburg, embaixador da Hungria junto à Santa Sé e escritor católico.

“Quem teria previsto que 70% da minha linha do tempo [do Twitter] discutiria acaloradamente um conceito cristão cunhado por Agostinho e Tomás de Aquino, tudo por causa do vice-presidente americano?”, escreveu Habsburg na rede social X.

Debate sobre a Ordo Amoris

No debate sobre o uso de ordo amoris por Vance, houve pouca discussão de que o conceito é útil para aplicar a doutrina moral da Igreja a situações concretas. A exceção foi Kat Armas, que condenou no National Catholic Reporter, jornal católico ultra-progressista dos EUA, o conceito de ordo amoris como parte da “ideologia colonial”.

O debate girou em torno de saber se Vance acertou ou não no conceito.

Rusty Reno, editor da revista americana First Things, argumentou em um artigo recente na revista Compact que a fala de Vance é consistente com a a doutrina cristã “de que devemos amar os que estão próximos com maior fervor do que os que estão longe”.

Em vez de minimizar o chamado de Cristo para amar todas as pessoas, Reno disse que essa doutrina leva em conta o fato de que somos “lançados num mundo de relacionamentos já existentes”, com diferentes níveis de obrigação e responsabilidade.

Eric Sammons, da revista Crisis, disse que Vance fez uma defesa “contra a inversão moderna do amor, em que o globalismo supera o localismo”. Essa inversão é “de fato anticristã, quando leva à negligência dos que pelos quais somos mais diretamente responsáveis”, disse Sammons.

O bispo de El Paso, Texas, dom Mark Seitz, chefe do comitê de imigração da USCCB, disse que apelos à ordo amoris não podem ser usados ​​para negar que somos obrigados por Cristo a amar todas as pessoas como nosso próximo.

“Embora tenhamos certamente uma responsabilidade maior para com os que estão próximos de nós, isso não significa que podemos ignorar as necessidades das pessoas que estão mais amplamente ao nosso redor”, disse o bispo Seitz no podcast Dispatch Faith.

Terence Sweeney, professor de filosofia na Villanova University, disse que Vance pode estar esquecendo que a ordo amoris “deve ampliar o amor” além da própria comunidade, tanto que santo Agostinho se opôs a deixar heranças consideráveis ​​para os filhos.“Para santo Agostinho, essa expansão requer auto sacrifício para suprir as necessidades dos necessitados”, disse Sweeney ao Register. “As necessidades deles sempre superam meus bens supérfluos”.

Ross Douthat, católico conservador colunista do jornal New York Times, aprovou a descrição geral de Vance sobre os deveres morais cristãos, mas disse que nosso dever principal de amar a Deus e também a necessidade de cuidar “daqueles fora de seus círculos normais que se apresentam em séria necessidade” podem “substituir os deveres naturais”.

“As questões de como esse último conceito se concretiza numa era globalizada e como ele molda as obrigações morais do governo de uma superpotência não são, eu acho, tão fáceis de responder”, disse Douthat na rede social X.

Um debate bem-vindo?

Ordo amoris foi um conceito teológico de prestígio para “distrair do fato de que o vice-presidente dos EUA acusou os católicos americanos de permitir o tráfico de crianças e de usar migrantes e refugiados para melhorar ‘seus resultados financeiros’”, escreveu Kim Daniels , diretora da Iniciativa sobre Pensamento Social Católico e Vida Pública da Universidade de Georgetown e ex-porta-voz da USCCB, na rede social X.

Stephen White, do Projeto Católico da Universidade Católica da América, disse na rede social X duvidar que o tuíte catequético do vice-presidente levará a algo que valha a pena, dada a aversão geral da sociedade moderna em ordenar as coisas corretamente, o que requer uma abertura a Deus.

No entanto, em comentários posteriores ao Register, White disse ter esperança de que a referência de Vance, vinda de dentro da tradição intelectual católica, possa ser um ponto de partida para retornar aos princípios e não simplesmente ficar preso em debates políticos partidários.

“Se os comentários do vice-presidente ajudarem a mudar nossa conversa — não só sobre imigração, mas sobre muitos desafios sociais — para uma estrutura mais ordenada e mais humana, isso seria algo muito bom”.

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