Acidigital
O corpo de santa Teresa de Jesus, também conhecida como santa Teresa D’Ávila permanece incorrupto quase cinco séculos depois de sua morte, em 4 de outubro de 1582, segundo informou ontem (28) a diocese de Ávila, Espanha.
“Hoje foi aberto o túmulo de santa Teresa e verificamos que se encontra nas mesmas condições da última abertura em 1914”, disse o postulador geral da ordem dos Carmelitas Descalços, o padre Marco Chiesa, do mosteiro carmelita de Alba de Tormes, onde repousam os restos mortais da santa espanhola.
O padre Miguel Ángel González, prior carmelita de Alba de Tormes e Salamanca, deu detalhes de como procederam: “A comunidade das Madres Carmelitas Descalças junto com o Postulador Geral da Ordem, os membros do tribunal eclesiástico e um pequeno grupo de religiosos transferimos os relicários com austeridade e solenidade para o local designado para estudo. Fizemos isso cantando o Te Deum com o coração cheio de emoção”. A diocese diz que esse processo ocorre no âmbito do reconhecimento canônico dos restos mortais de santa Teresa D’Ávila, solicitado em 1º de julho à Santa Sé pelo bispo de Salamanca, Espanha, dom Luis Retana, autorização concedida pelo papa Francisco através do Dicastério para as Causas dos Santos.
O processo de estudo do corpo, do coração, de um braço e de uma mão, essa última preservada na localidade espanhola de Ronda e que foi levada para Alba de Tormes para investigação, acontece entre hoje (29) e sábado (31).
A diocese especifica que, para chegar ao corpo de santa Teresa, primeiro foi retirada a laje de mármore do túmulo. Depois – na sala destinada aos estudos e apenas com a presença da equipe médico-científica e dos membros da corte eclesiástica – foi aberto o túmulo de prata.
O tribunal é composto pelo provincial carmelita da Província Ibérica de Santa Teresa de Jesus, na Espanha, padre Francisco Sánchez Oreja; pelo prior carmelita de Alba de Tormes e Salamanca, padre Miguel Ángel González; e pela superiora das Filhas da Caridade de Alba de Tormes, irmã Remigia Blázquez Martín. Os ourives Ignacio Manzano Martín e Constantino Martín Jaén ajudaram a abrir o túmulo de prata e também estarão presentes no último dia dos trabalhos.
“As três que estão guardadas em Alba de Tormes, as três que o Duque de Alba lhes emprestou e as três que o padre geral [carmelita descalço] guarda em Roma, além da chave do rei. Três dessas chaves servem para abrir a grade externa, três servem para abrir a tumba de mármore e as outras quatro servem para abrir a urna de prata”.
Primeiros resultados do processo de reconhecimento
O padre Chiesa diz que em seus últimos anos, santa Teresa de Jesus teve problemas para andar, devido às “dores que ela mesma descreve”. “Às vezes, olhando para um corpo, você descobre mais do que a pessoa tinha”.
O padre diz ter visto “a presença de espinhos calcários que tornam quase impossível caminhar”. “Mas ela caminhou. Chegou a Alba de Tormes e, depois, a morte, mas o seu desejo era continuar e seguir em frente, apesar dos seus defeitos físicos”, acrescenta o postulador geral da Ordem dos Carmelitas Descalços. O padre carmelita destaca ainda que as imagens preservadas do reconhecimento de 1914 são em preto e branco, por isso “é difícil fazer uma comparação”, embora “as partes descobertas, que são o rosto e o pé, sejam iguais as que foram em 1914”.
“Não tem cor, não tem cor de pele, porque a pele fica mumificada, mas dá para ver, principalmente no meio do rosto. Você pode ver isso bem. Os médicos especialistas veem quase claramente o rosto de Teresa”, diz o padre.
Três etapas do processo com os restos mortais de santa TeresaA primeira etapa, abertura e reconhecimento, acontece até sábado (31). Nesta fase, uma equipe liderada pelo Dr. José Antonio Ruiz de Alegría, de Madri, fará fotos e radiografias, e vai limpar adequadamente os relicários.
A segunda etapa será em laboratórios na Itália por alguns meses, para depois escrever as conclusões científicas. Por fim, e numa terceira fase, serão propostas algumas intervenções para melhor preservar os vestígios.
Antes do encerramento definitivo, será concedido tempo adequado para que as relíquias de santa Teresa possam ser veneradas.
A abertura de 1914
A última abertura do túmulo de santa Teresa de Jesus ocorreu de 16 a 23 de agosto de 1914. Naquela época foi indicado que, segundo a diocese de Ávila, o corpo se mantinha “com completa incorrupção”, como ocorreu na abertura de 1750.
Segundo o padre carmelita Daniel de Pablo Maroto, o túmulo foi aberto porque o padre Clemente de los Santos, superior geral dos Carmelitas Descalços, quis aproveitar a sua visita à Espanha para ver o corpo dos santos fundadores: são João da Cruz, em Segóvia, e santa Teresa, em Alba de Tormes.
O estudo agora iniciado com os restos mortais de santa Teresa D’Ávila será semelhante ao feito em 1991 com os de são João da Cruz, em Segóvia, por ocasião dos 400 anos de sua morte.
Quem foi santa Teresa de Jesus?
O site da cúria geral dos Carmelitas Descalços diz que reconhecem como mãe e fundadora santa Teresa de Jesus, ou D’Ávila, primeira mulher a se tornar doutora da Igreja, que quis “preservar a continuidade do Carmelo”, com o desejo de que “nasça um novo estilo de vida religiosa”, sempre “na fidelidade à Igreja”.
Santa Teresa de Jesus, nascida na Espanha em 1515, também foi mística e escritora de ascendência judaica, reconhecida tanto por sua contribuição à espiritualidade católica quanto às letras espanholas.
A ela pertencem as falas: “Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa, Deus não muda, a paciência tudo alcança; quem a Deus tem, nada lhe falta: só Deus basta”.