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No dia 15 de agosto, a Igreja celebra a solenidade da Assunção da Virgem Maria e diversas devoções marianas, como Nossa Senhora da Glória, da Boa Viagem, da Boa Morte, da Guia, da Abadia, da Ponte. Segundo o especialista em mariologia Vinícius Paiva, todos esses títulos “giram em torno do mistério da Assunção, que é um dogma da nossa fé”.
Em 1950, através da constituição apostólica Munificentissimus Deus, o papa Pio XII definiu esse dogma, ao afirmar que “a Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre foi assunta em corpo e alma à glória celestial”.
Esse “mistério da fé” pode ser contemplado por diferentes ângulos e, “dependendo do ângulo que você contempla, tem uma devoção que se desenvolve”, disse Vinícius Paiva à ACI Digital, em 2022. Assim, “por exemplo, se você olha para o mistério da Assunção e enxerga nele a confirmação da vitória sobre a morte alcançada com a ressurreição de Cristo, confirmada com a Assunção de Maria, essa Nossa Senhora passa a ser Nossa Senhora da Boa Morte, porque a morte não é mais o fim, não tem mais domínio sobre Maria, por isso, seu corpo, sua pessoa viva é assunta aos céus. Nós estamos contemplando o dogma da Assunção pelo ângulo da morte. Agora, se contemplar sobre o ângulo da glória, essa Maria assunta aos céus é Aquela que foi glorificada, que está na glória”, disse. Entre as diversas devoções a Nossa Senhora recordadas em 15 de agosto, algumas chamam a atenção por seus títulos diferentes ou por serem mais locais. Uma dessas é Nossa Senhora da Ponte, padroeira da cidade e arquidiocese de Sorocaba (SP). Nessa cidade está a única catedral que venera a Mãe de Deus com este título.
Segundo o site da catedral de Sorocaba, esta devoção de origem portuguesa pode ter uma explicação geográfica e outra teológica. “A primeira seria a capela junto a uma ponte na cidade de Ponte de Lima, em Portugal, existente até hoje. A outra nasce da função de todas as pontes: unir o que está separado, aproximar o que está distante, encurtar as distâncias, pois ao gerar em seu virginal ventre o Salvador Maria torna-se essa ‘ponte’ que une o céu à terra e assim nos aproxima de Deus”.
Enfim, afirmou Vinícius Paiva, “o mesmo mistério comporta diferentes ângulos de contemplação e, portanto, diferentes devoções. O ponto central é o mistério da Assunção de Maria, é esse dogma que está brilhando, que a Igreja celebra como uma solenidade no dia 15 de agosto, e estas devoções, esses títulos derivam dessa solenidade, dessa contemplação”.
O padre Márcio Ruback, do santuário Nossa Senhora da Abadia, em Romaria (MG), chamou a atenção para o fato de que, embora sejam diferentes títulos atribuídos à Virgem Maria e com imagens diferentes, todas essas imagens das devoções celebradas em 15 de agosto “mostram Maria assunta aos céus, com os anjos em volta”. No caso da Abadia, o sacerdote afirmou que esse termo significa “casa do Pai”, ou seja, “é a Virgem Maria que volta para o Pai”.
Assim como Nossa Senhora da Ponte, também Nossa Senhora da Abadia e outras devoções marianas celebradas em 15 de agosto tiveram origem em Portugal e hoje estão enraizadas no Brasil, honradas como padroeiras de diferentes cidades. Entre elas, estão Nossa Senhora da Boa Viagem, padroeira de Belo Horizonte; Nossa Senhora do Porto da Eterna Salvação, padroeira de Andrelândia (MG); Nossa Senhora da Guia, padroeira de Acari (RN), cuja igreja foi elevada a basílica menor em março deste ano. Segundo o especialista em mariologia Vinícius Paiva, “nossa devoção mariana do Brasil é muito devedora, quase em sua totalidade, a Portugal”. Apesar de haver no país algumas devoções por influência de outras culturas, Paiva disse que, “em função da colonização portuguesa e do fato de o povo português ser bastante mariano, desde a época que o Brasil foi colonizado, essas devoções foram trazidas de Portugal e nós acabamos assumindo os desdobramentos do caráter devocional do povo português. É uma boa herança”. “Todas as igrejas, as devoções, as confrarias, as irmandades, os títulos, as imagens marianas, o próprio costume brasileiro de se reportar a uma imagem da Virgem Maria, isso se deve à grande devoção da cultura portuguesa à pessoa de Maria” e que veio para o Brasil como uma “bonita contribuição para a nossa formação católica”, disse.
Festejos por todo o país
Como muitas cidades e dioceses no Brasil possuem Nossa Senhora como padroeira e a celebram em 15 de agosto, em diferentes partes do país é possível encontrar uma grande festa dedicada à Mãe de Deus neste dia. Uma dessas celebrações é de Nossa Senhora da Abadia que, segundo padre Ruback, “é a quarta maior devoção do Brasil em número de fiéis e a maior de Minas Gerais”, chegando a reunir 500 mil pessoas.
Em Fortaleza (CE), que tem como padroeira Nossa Senhora da Assunção, a Caminhada com Maria é um tradicional evento em honra à Virgem. Em 2019, reuniu mais de 2 milhões de pessoas pelas ruas da cidade. Os fiéis fazem um percurso de aproximadamente 12,5 quilômetros entre o santuário de Nossa Senhora da Assunção e a catedral metropolitana. Em 2015, foi reconhecida como patrimônio cultural imaterial do Brasil.
Em Belo Horizonte, cuja padroeira é Nossa Senhora da Boa Viagem, a festividade também possui um tradicional evento chamado Caminhada com Maria. A imagem da Virgem é levada por diversas igrejas da cidade dedicadas a Maria.
Para o especialista em mariologia, Vinícius Paiva, “é muito importante nos locais onde se celebram esses feriados religiosos dedicados a Maria que se viva de maneira digna, de maneira honrosa, de maneira celebrativa, comunitária, para que se mantenha viva a cultura da devoção mariana” frente a uma “tendência de laicidade” na sociedade.
Paiva afirmou que tais celebrações possuem uma importância histórica e cultural no Brasil, mas sobretudo religiosa. Segundo ele, os católicos devem aproveitar as celebrações de 15 de agosto para “celebrar o nosso amor filial à Virgem Maria, reconhecer no dogma da Assunção a nossa própria vocação ao céu. O céu, a eternidade com Deus, não pode ser esquecido”. “Celebrar o dogma da Assunção e todos os outros títulos vinculados a esse acontecimento da nossa fé é sim reavivar a nossa vocação ao céu, aquilo que será a nossa condição final. Maria já é aquilo que seremos e Ela já está onde um dia estaremos”, concluiu.