“Voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos, rasgai o coração e não as vestes e voltai para o Senhor vosso Deus”” Joel 2, 12-13
Jesus nos convida com amor: “Convertei-vos, fazei penitência e crede no Evangelho” (Marcos 1, 15)
Após 20 dias ausente das atividades por questão de saúde, Deus nos permite ir retornando aos poucos, retornemos então ao assunto central deste tempo.
Ao impor as cinzas em nossa fronte, a Igreja nos faz recordar a nossa origem: “lembra-te que és pó e ao pó voltarás”. Com essa lembrança, somos convocados a viver estes dias exercitando a humildade e a penitência, uma vez que a partir do nosso nada, somos chamados a contemplar a grandeza, o Amor e a misericórdia do Senhor. Por isso, a proposta central para esse tempo é a Conversão.
Quanto melhor nos prepararmos, mais profundamente participaremos e viveremos o mistério salvífico de Cristo que com sua Paixão, Morte e Ressurreição nos convida a caminhar com Ele, passar pelas provações desta vida, viver e sentir com Ele a nossa Via-Crucis para assim podermos, com Ele ressuscitar, um dia.
Iluminada pelo Espírito Santo, a Igreja, nos apresenta um roteiro de purificação e um itinerário penitencial propício para estes 40 dias de preparação para a Páscoa. Enquanto a sociedade reduz suas vestes, e praticamente desnuda os corpos em uma desenfreada e perigosa banalização da pessoa, Jesus nos apresenta e nos propõe vestir o figurino da decência e da penitência, a ser adotado por todo aquele que ouve o chamado e as propostas exigentes do seguimento de Jesus. O roteiro e o figurino se confundem em uma mesma proposta de vida, reafirmada por Pedro: “Sede santos, porque Eu sou santo” (1ª Pedro 1, 16)
Na liturgia da Quarta-Feira de Cinzas deste ano, Jesus nos apresenta uma catequese importante, sobre:
- Esmola: Nos dias atuais a esmola está sendo questionada por conta da falsificação da verdade, e da
epidemia quase que mundial da cultura do levar vantagem, do enganar, das más intenções instaladas no coração da humanidade. Não se consegue mais identificar o que é verdadeiro do que é falso e mentiroso. Apesar de todas as controvérsias atuais sobre a esmola, não esqueçamos que continua sendo uma obra de misericórdia vivamente aconselhada e ordenada pelo próprio Cristo. Ele nos ensina como devemos dar esmola, qual deve ser nosso comportamento e qual a finalidade e intenção. As orientações de Jesus seguem uma lógica completamente oposta à lógica humana, pois hoje tudo se faz com a finalidade de aparecer, demonstrar bondade, em busca de “flashes” e “likes”. Parecer bom, mesmo sem ser bom, é a lógica do mundo. Jesus nos pede silencio, humildade, retidão interior. “Que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita” (Mateus 6, 3). Nos tempos atuais, esta proposta, este figurino, são exigentes demais, de difícil adesão. Por isso são poucos os que decidem seguir incondicionalmente o Mestre Jesus, que nos convida, mas deixa clara a exigência do seu seguimento: “Se alguém me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mateus 16, 24 e Marcos 8, 34)
- Oração: Devemos ser pessoas orantes. O próprio Jesus vai nos dizer: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação” (Mateus 26, 41 e Marcos 14, 38), mas a nossa oração precisa ser uma oração que brota do coração, verdadeira, que nos aproxime e nos faça íntimos do Senhor, não uma oração exterior, para aparecer. O termo entrar no quarto e fechar a porta significa, interiorizar-se, olhar para dentro de si, recolher-se na sua intimidade, despir-se diante do Senhor que sabe do mais escondido dentro de nós. Em resumo, a nossa oração deve ser verdadeira, sem máscaras, sem falsidade. Enquanto o mundo se utiliza do artificio das máscaras, das dissimulações, das mentiras, o Senhor nos convida a depormos nossas máscaras, nossas coroas que aparentam ser de ouro, mas na verdade são do mais pobre barro, pois somos pó, e nada mais.
Devemos rezar como a mãe do profeta Samuel, uma oração de “derramar a alma na presença do Senhor” (1ª Samuel 1, 15). A partir dessa intimidade pessoal e derramamento interior, ganha sentido e torna-se eficaz a nossa oração comunitária, onde compartilhamos com os irmãos tudo o que já vivenciamos em nossa oração pessoal.
- Jejum e abstinência: Feito com reta intenção e com o desejo de louvar e bendizer a Deus, o Jejum torna-se uma poderosa oração agradável ao Senhor. Por isso também é recomendado por Jesus a partir de uma atitude de profunda simplicidade e transparência. A orientação é de que o façamos sempre a partir do nosso desejo interior de louvar, sem nenhuma vontade de aparecer. O Jejum é uma “mortificação” dos sentidos, ou seja, uma forma de morrer para as coisas do mundo, para os desejos carnais, com a finalidade de enriquecer e fortalecer o Espírito de Deus em nós. Ficar morto para os apelas e inclinações do mundo e assim libertar-se dessas amarras, para melhor viver a liberdade diante do Senhor. Com um jejum bem feito, bem intencionado e dotado da humildade e discrição recomendados, aperfeiçoamos nossa intimidade com Deus, nos livramos das coisas que nos amarram, que nos puxam para baixo e nos escravizam. Abster-se de carne não significa substituir um tipo de carne por outro, mas nos dias de jejum preceitual, não ingerir nenhum tipo de carne e seus derivados. O Jejum é uma poderosa forma de oração que sensibiliza o coração de Deus.
Jejum de preceito proposto pela Igreja: Quarta-feira de Cinzas e Sexta Feira da Paixão.