R. Jared Staudt/Tradução: Equipe Christo Nihil Praeponere
Tenho trabalhado com catequese por quase vinte anos. Qualquer pessoa envolvida com educação religiosa pode afirmar que passamos por um período de crise. Os nossos programas de catequese não produzem adultos católicos ou discípulos permanentes. Aulas sobre Deus não são suficientes para atrair os nossos filhos para uma vida cristã, para o seguimento de Jesus e o anúncio de sua missão ao mundo. Sabemos qual é o ingrediente ausente em nossa formação catequética: o papel dos pais. A razão disso é que somente os pais podem traduzir a fé na vida cotidiana no lar, tornando a catequese mais do que uma simples instrução, mas a formação numa cultura — um estilo de vida cristão. Isso transforma a nossa fé em algo real e vivo para os nossos filhos, algo que molda tudo o que eles fazem e que assume uma presença tangível em suas vidas.
Os pais, em particular, exercem mais influência sobre a vida de fé dos filhos do que qualquer outra pessoa (mães, avós, professores e párocos). Estudos revelam que, se os pais não praticam a fé, é muito improvável que os filhos a pratiquem na vida adulta. Se os pais a praticam, é mais provável que os filhos frequentem a igreja no futuro. Os pais são chamados a liderar suas famílias na fé e a propiciar um modelo de vida cristã para os filhos. Como pais, somos chamados a ser professores dos nossos filhos, principalmente servindo de exemplo para eles. Pais e mães são os principais educadores dos filhos, e isso inclui a educação na fé. Os pais têm de assumir um papel central nesta educação, porque são cruciais na formação religiosa dos filhos. Porém, para formá-los na fé não basta apenas deixá-los numa turma de catequese da paróquia [1]. Eles precisam passar por um processo de aprendizagem e de iniciação à vida cristã para que abracem não apenas a fé, mas todas as outras coisas vinculadas a ela.
Somente os pais podem traduzir a fé na vida cotidiana no lar, tornando a catequese mais do que uma simples instrução, mas a formação numa cultura.
Portanto, nosso objetivo deve ser ensinar nossos filhos a viver como cristãos no mundo. Para isso, temos de nos tornar catequistas da vida cristã, mostrando como fazer da fé o centro das nossas vidas. São João Paulo II deixou isso claro: “A catequese, portanto, há-de tender a desenvolver a inteligência do mistério de Cristo à luz da Palavra, a fim de que o homem todo seja por ele impregnado” (Catechesi Tradendae, §20). Conhecemos Cristo a fim de que Ele possa moldar o modo como vivemos concretamente e como um todo. Bento XVI disse o mesmo a respeito da educação católica de modo mais amplo, afirmando que ela deveria “procurar promover aquela unidade entre a fé, a cultura e a vida, que constitui a finalidade fundamental da educação cristã” (Bento XVI, Discurso na Abertura dos Trabalhos do Congresso da Diocese de Roma, 11 de junho de 2007).
Se não ensinarmos nossos filhos a viver a fé de forma integral, eles seguirão o caminho do mundo. Nossa cultura familiar irá se conformar ou à nossa fé ou a uma cosmovisão secular. A catequese transmite não apenas o conteúdo da fé, mas um modo cristão de vida. Christopher Dawson ensinou isso de forma contundente em seu livro Understanding Europe (“Compreendendo a Europa”), descrevendo como tivemos um colapso na comunicação de nossa identidade cristã no Ocidente:
Desde o início, a educação cristã foi concebida não tanto como o aprendizado de uma lição, mas como uma introdução a uma nova vida, ou, ainda mais, como iniciação a um mistério (…). A educação cristã era algo que não podia ser transmitido apenas por meio de palavras, mas algo que exigia uma disciplina do homem inteiro.
Se os nossos filhos se conformarem mais à cultura secular do que à fé, haverá um colapso na educação dos homens e mulheres cristãos.
A catequese transmite não apenas o conteúdo da fé, mas um modo cristão de vida.
A arte da vida inclui a oração, o trabalho, a formação do caráter e o aprendizado de como ser forte perante as dificuldades. Atualmente, um dos principais desafios que enfrentamos na família é a tecnologia. Neste campo, também devemos liderar pelo exemplo. Como podemos ser moderados no uso da tecnologia, impedindo que ela nos domine e tratando-a como uma ferramenta útil? A ênfase na oração e nos momentos com a família, e não no uso da tecnologia, constitui uma mensagem importante a respeito de prioridades. A limitação da tecnologia é uma tarefa importante para os pais hoje e um aspecto crucial de nosso papel como professores. Temos de substituir a influência da tecnologia com a formação da mente e da imaginação dos nossos filhos por meio de leitura em voz alta, do canto, das brincadeiras e do tempo gasto ao ar livre.
No geral, nossos filhos esperam que nós ensinemos a eles como viver. Nossas ações os ensinam e os guiam na fé, além de os prepararem para a aventura da fé. Nunca se enfatizará o bastante a urgência da construção de uma cultura cristã em nossas famílias, como oásis de sanidade e santidade num mundo sem Deus. A iniciação dos nossos filhos numa cultura cristã é a nossa tarefa primordial como pais e é a coisa mais importante que podemos fazer como pais pela formação e pela felicidade deles.