Padre Crispim escreve: ‘O mensalão nunca existiu’
A criatividade de alguns brasileiros para o ilusionismo é de admirar. Todos recordamos do conhecido mensalão, agora apresentado como algo que não existiu. O fato é que as provas não deixam dúvidas, não só porque a imprensa noticiou amplamente a roubalheira, mas sobretudo, porque a polícia e o poder judiciário trouxeram à tona inúmeras amostras do que foi esta triste passagem política da
história do País, e que de fato aconteceu.
Aliás, temos sido tratados como tolos nestes casos, e a nossa inteligência menosprezada. A corrupção nos rodeia todos os dias e parece que já estamos nos acostumando com ela, a tal ponto de algumas figuras públicas tentarem desmentir o óbvio, negar o inegável.
Os jornais do dia dois de abril deste ano, mostraram manchetes sobre a conclusão do relatório da Polícia Federal sobre assunto. Após seis anos de investigação, novamente o mensalão, denunciado por Roberto Jefferson, foi apontado como verdadeiro, pago por uma tal Associação Visanet. Mas quem fazia parte desta associação? Segundo investigações policiais é uma associação composta por três grandes bancos.
Portanto, fica evidente que não foi uma ilusão coletiva, incluindo Polícia Federal (PF) e o Ministério Público, ao contrário do que oex-presidente Lula tenta sustentar, dizendo até mesmo que dedicaria seu pós-mandato para “inocentar seus amigos”. Assim Luiz Inácio ironizou, por ocasião de uma visita aos EUA, ao impacto do novo relatório da PF que aponta uso de dinheiro público no mensalão,
dizendo que o processo “só vai ser julgado em 2050” (Folha de São Paulo, 7 de abril de 2011).
Fica, talvez, mais claro porque os bancos conquistaram tanto poder no governo passado, cujo partido, outrora, foi o mais feroz crítico do capitalismo e se tornou, via aproximação perigosa com banqueiros, cúmplice do mercado liberal.
Assim, no mandato do Presidente Lula “nunca (na história deste País) os bancos ganharam tanto dinheiro e nunca foram tão influentes”.
Assim sendo, dizer que o mensalão não existiu, para um ex-Presidente que saiu com uma popularidade poucas vezes vista, é no mínimo preocupante, por ser ele a fazer tal afirmação e se colocar assim acima da justiça e/ou depreciando a inteligência da população e das instituições; preocupa-me também o fato da população, que ouvindo afirmações como estas de um ex-chefe de governo, ainda lhe outorgue tamanha popularidade.
Porém, a sua posição, que para muitos parece absurda, vem exatamente desta falta de senso crítico de uma parte dos brasileiros, que rapidamente esquecem os fatos.
Muito se falou numa herança maldita herdada do governo de Fernando Henrique Cardoso, não é possível negá-la, mas a verdadeira herança maldita foi protelada, aprofundada e agora passada à frente, seu nome é corrupção – evidente, mas negada com todas as letras. O mensalão é a demonstração mais contundente dela.
Ele não foi um sonho, mas um pesadelo real!
Pe. Crispim Guimarães
Pároco da Cristo Rei – Laguna Carapã